quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A menina da janela

Debruçada a janela, Lia esperava o seu amor passar.
Todos os dias, no mesmo horário, lá estava a menina pequena em cima de um banquinho a esperar. Seus cabelos longos e encaracolados, os olhos pretos brilhavam a cada carro que passava, mas ele não chegava e aquele sorriso maroto se entristecia ao sentir o tempo passar, mesmo sem entender o tamanho do tempo.
Não ouvia mais o assovio avisando que tinha chegado, corria às vezes até a porta quando alguém batia, não era o seu papai.
Tão pequena, mas já sofria com a saudade do último dia que o viu sair de casa para não mais voltar. Ele nem pediu licença, não disse nada, esqueceu da menininha que quase acabara de nascer, só tinha três aninhos, como aprender a viver sem ele?
Ia dormir todas as noites decepcionada, e entre lágrimas mansinhas, em seu travesseiro ela adormecia. Acordava pela manhã e cedo costumava pular na cama dele e se aconchegar no quentinho do corpo do paizão. E agora tudo parecia vazio, tão frio, sem entender nada perguntava para sua mãe quando ele iria voltar. A resposta era sempre a mesma: - Ele viajou a trabalho.
Hoje Lia tem cinco anos, talvez ainda não tenha entendido nada, entretanto, mesmo longe, ela não deixa de ver seu papai, passear com ele e se debruçar agora não na janela, mas num grande e sincero abraço de desculpas sempre que se encontram.

Eliane Omena

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